Como alimentar o sonho dos que dormem?
A intromissão dos pais na vida e nos planos dos filhos é o bastante para instalar-se a discórdia, sobretudo por quem nunca valorizou as coisas simples e naturais da vida.
Não significa que o pai desacerte os passos e os detalhes dos sonhos materiais dos seus, mas porque o homem considerado antiquado não é o mesmo tipo que ostenta as passarelas do glamour. A diferença é que os pais querem o melhor para o grupo e a verdade é que o tempo tem se encarregado de realizar as mudanças, sobretudo porque as mentes ainda travam verdadeira batalha e resistência contra aquilo que seja considerado certo ou errado, e isso são apenas detalhes. Analisando a versão da outra parte (a de suporte e provisão), a história é vista de ângulo e versão convincentes.
Todos almejam o melhor, mas a divisão nem sempre é em grupo. Estudar nos dias de hoje é ideário cumulativo de riqueza e conhecimento, e a especialidade mesmo provém da primeira pretensão. Sem recursos, não se decola. Sou de um estado pobre onde milhares de estudantes procuram outros países imbuídos de sonhos que lhes transponham as ações do brincar de médico à realidade. É a saúde em contracena com hábitos e costumes da vida humana.
Os pais também se amoldam no perfil dos esquecidos. Como não detêm o poder dos deuses, devem suportar o fardo do famigerado endividamento. São os primeiros a dar suor e lágrima aos filhos e as prestações de suas lutas são fielmente listadas nas faturas mensais que acumulam.
Essas coisas normais do dia-a-dia fizeram-me recordar da situação de um senhor pobre que passou a vida inteira tentando, com sacrifício e honestidade, adquirir um lar tranquilo e assim repassar a educação obtida aos filhos. Com pouca economia comprou um carro usado que só lhe rendeu dor de cabeça. A filha, cheia de razões e exigências, matriculou-se em instituição estrangeira no curso de medicina, na fronteira. Ele continuou otimista e não pensou duas vezes em novas dívidas na expectativa do tornar realidade o sonho da jovem. Acabou por esquecer as benfeitorias do imóvel, do reparo do carro, da vida cômoda idealizada e mergulhou fundo nas dívidas feito aplicação de rendimentos imprevisíveis.
A filha, não se sabe como, ao contrário, distante de casa e dos ensinamentos primários dos pais, fazia loucuras noturnas, e, assim, suas notas não significavam nada além do fracasso pessoal. Despia-se a troco de alguns trocados para alimentar o vício da vaidade.
Um dia o pai adoeceu. Acometera-se de câncer e de preocupações múltiplas conquistadas ao longo de tanto sacrifício. Faltou recurso essencial do bom idoso a proporcionar-lhe a continuidade dos estudos. Teve então de sair do salto, trancar o curso para nunca mais voltar, não por suas expensas.
Liberado do hospital para o último adeus aos amigos e parentes, retornou o idoso ao lar, agora edificado de profunda solidão, tristeza e abandono. Já não dispunha dos mesmos sonhos, da saúde e dos sinais vitais que lhe recuperassem. E do imóvel em estado deplorável punha-se a olhar do telhado entreaberto para o céu azul e promissor, e sua visão remetia ao imaginário de carneirinhos enfeitados deslizando suavemente na via celeste. Os parentes se foram, os filhos já se encontravam afastados.
Aqueles que, enfermos, não dispõem de recursos num momento de crise é como se o maior tesouro lhes ofusquem a visão. Tudo sem sorte, tudo milimetricamente sacrificado por um objetivo: proporcionar condições e uma vida digna à família, que se esvaiu das mãos calejadas.
Para aquele que passou a vida inteira trabalhando e sonhando com o descanso, agora pedia a Deus uma morte sem tanta dor. Adormeceu tal qual uma criança enfadada de tanto brincar.
Jovens, aproveitem seus dias, não deixem que o vício destrua seus sonhos e não permitam que as “amizades” sejam mais importantes que sua família. O suor dos pais não é jorrado de uma fonte inesgotável, mas de um corpo que sofre pela idade e pelo sofrimento, e, sobretudo, não é em vão quando se tem em projeto a bela história de vida que é você. Aproveitem as que têm. Em sua missão com o saber procurem usufruir do trabalho com os ensinamentos dos pais e de Deus. Tudo passa. Um dia, estarão no lugar deles, e talvez esse futuro seja mais assustador do que o pensamento de sua existência diante de tantos desafios.
Quantos jovens não veem a vida passar porque se demoram demais em sono profundo. Não aprendem a lavar um copo e agora precisam injetar na alma a verdade que um dia ignoraram.
Quantos jovens não se reconhecem como verdadeiros senhores e senhoras de família e se abraçam e desfrutam do corpo como velhos conhecidos da vida, para se acomodarem diante de uma gravidez, arriscarem-se no mundo por um trago de bebida ou droga para alimentar o corpo maltratado e faminto. São milhares. Esta educação não é a do sonho de cada um. Os caminhos e atalhos têm seu destino certo, embora alguns cheguem primeiro.
Outros (jovens), mumificados pela arrogância não aprendem que o tempo sugeriu fases e transposições na vida, e continuam congelados em sua vaidade e idolatria. Adentram noites relacionando-se virtualmente, esquecendo-se que um corpo quentinho e vivo lhes requer e deseja um abraço e uma palavra de carinho e esperança, bem ao lado. A vida é cheia de mistérios, mas o homem é um predador de si mesmo.
Tudo na vida depende dos projetos que realizamos. Se optarmos por nos posicionar como meros expectadores ou plateia das coisas ilusórias, a vida passa como um filme no qual se consomem pipocas e fantasias. Todavia, se nos revestirmos dessa realidade de amor e fé, abrimos nosso coração, e decerto haverá sol em todas as janelas.